
Thaís Cieglinski
“Foi quase um ano sem notícias. Pensava que ela estivesse morta. Um dia, me ligaram dizendo que a minha filha estava internada em uma unidade psiquiátrica em Uberlândia (MG). Ela estava vivendo como mendiga e foi recolhida por um grupo que dá assistência à população de rua. Depois de alguns dias no hospital, conseguiu, finalmente, lembrar o telefone de casa.” O relato dramático é de Neusa Francisca de Paula, 49 anos, uma dona de casa que mora no Guará e, há cerca de seis anos, sofre com a dependência química da filha mais velha. Mas Neusa não está sozinha. O Correio conversou com mulheres que tiveram a vida transformada depois que a maconha, o álcool, a cocaína e o crack roubaram seus filhos e, a partir de hoje, conta essas histórias de dor e de esperança.
Os depoimentos trazem detalhes da rotina das mães que vivem dilemas diários diante dos desafios impostos pelo vício. Muitas sacrificam a própria sobrevivência para a internação dos filhos. Outras chegam ao extremo de comprar drogas ou pagar dívidas com traficantes para afastá-los da violência. As críticas de familiares, as dificuldades em encontrar tratamento e o medo de perdê-los são sentimentos comuns a essas mulheres, que, apesar de tudo, não desistem deles.
É o caso de Neusa, que viu a comemoração dos seus 49 anos quase acabar em tragédia. Depois de receber amigos e parentes para um almoço, a dona de casa presenciou a filha mais velha, dependente química, atingir, com uma garrafa quebrada, o marido. A festa de aniversário terminou com polícia, ambulância, delegacia. Érica Paula da Silva, 32, está presa desde aquele dia, 18 de agosto de 2013. “Ela teve um surto, queria me matar e matar o padrasto. Foi o auge da loucura dela”, conta.
O episódio marca a história de luta da mãe pela recuperação da filha, que começou a usar drogas quando se casou, há cerca de seis anos. “Quando o problema bateu na minha porta, foi um baque. Eu a eduquei da mesma forma que os meus outros cinco filhos, não imaginava que isso aconteceria conosco”, lembra. Após um namoro relâmpago, Érica e Jorge (nome fictício) decidiram formalizar a união na igreja e no civil. A filha de um relacionamento anterior da jovem foi morar com eles.
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